Bruna Andrade, Isabela Garrido e Taylla de Paula
*foto correio
Ele tem apenas 31 anos, mas uma vasta experiência em redação jornalística. Formado em jornalismo pela Unibahia, Bruno Wendel começou sua carreira na Tribuna da Bahia, onde era repórter da editoria de segurança. Fez especialização em segurança pública, foi repórter de Polícia do antigo Correio da Bahia e, após a reforma do jornal, passou a escrever matérias para o caderno Mais. Na redação do Correio* há seis anos, Bruno admite que lá faz de tudo um pouco. Nesta conversa, ele fala da rotina da redação, da política do veículo em que trabalha, avalia o mercado de jornalismo e expõe sua visão sobre o papel do jornalista.
Como é um dia típico de trabalho?
É ‘punk’! (risos) A gente põe os pés na redação e já tem gente dizendo que aconteceu isso e aquilo e você tem que correr atrás com suas as fontes para confirmar. Se for uma bomba, pega o carro e o fotógrafo, ‘se pica’ para o local e vai checando no trajeto. O repórter vai para a rua com o intuito de trazer o inusitado, o diferente, pois o jornal concorre principalmente com a internet. Então o leitor quer algo novo e o repórter de impresso não se contenta com o que todos já sabem. Depois de conseguir ‘A matéria’, o repórter bate um texto principal, explorando a ideia previamente já discutida com a chefia de reportagem e edição e depois faz duas ou três coordenadas.
O que muda na rotina de um repórter de cidade do Correio* em relação às outras editorias?
O repórter de cidade é mais safo, simples assim! (risos) O repórter de cidade sempre está em pauta no jornal, ou seja, a maioria das manchetes é de cidade, logo, os pepinos também. Sem falar que quem faz cidade, em especial polícia, faz tudo, né?
Você deve ter um mailing de fontes, né? É por meio delas que as notícias chegam até você ou você corre atrás?
Sim, todos os repórteres têm sua agenda. Os meus contatos valem ouro! (risos). As notícias chegam das duas formas, tanto por meio das fontes como com a gente correndo atrás. O correr atrás é correr atrás mesmo, literalmente. Ir até o local dos fatos, conversar com as pessoas, com a polícia, com outras fontes oficiais e não-oficiais, como ONGs, líderes comunitários etc..
Como é a sua relação com as fontes?
É uma relação de confiança. Quando um colega pede o número de um determinado delegado, eu mesmo ligo. Em alguns casos, a fonte exige não falar com mais ninguém, a não ser com o repórter que ele confia. A confiança se adquire com a convivência diária. Mas eu procuro, quando posso, fortalecer o contato, ligo pra saber como está, como vai a família, no Natal envio uma mensagem, no dia que a pessoa não está pra conversar e é agressiva, não revido...
Como você definiria a linha editorial do Correio*?
Hum... Falar de linha editorial é complicado, pois para o repórter isso pouco importa, já que a função será a mesma se ele trabalhar em um veículo A, B, C ou Y, Z. Mas posso dizer que o Correio* hoje é um jornal de páginas mais leves e textos mais fáceis de ler, com destaque para os infográficos. Isso agrada gregos e troianos.
Algumas pessoas consideram o Correio* um jornal popular. Para você, qual é a diferença entre o jornalismo popular feito pelo Correio* e o feito pelo Massa! ?
Como já disse, é difícil falar sobre linha editorial. Acho que as pessoas falam que o Correio* é popular por conta do preço, que é R$0,50. Mas você não acha contraditório um jornal popular ter editorias como o Bazar, que também agrada os públicos A e B? Se você reparar, a capa do Correio* da banca não é a mesma capa do assinante. Acredito que o Massa! é popular porque é a identidade dele. O Correio* é um jornal camaleão, que transita bem em todas as classes.
A política ainda influencia na forma como os temas são abordados no Correio*? Por exemplo, o filho de ACM é diretor da Rede Bahia, Paula Magalhães é jornalista do Bazar... isso ainda representa alguma coisa na hora de selecionar os temas tratados pelo jornal?
Não. Pelo que vejo, não há nenhuma interferência nas decisões do nosso editor-chefe, Sérgio Costa.
Você já escreveu uma matéria que não foi aceita pelo editor?
Que ele barrasse, não. Já fiz matéria que ele achou que não estava clara ou que faltava alguma coisa e então reescreveu.
O Correio* se posicionou claramente a favor da greve dos professores estaduais. É da política do jornal deixar claro a sua posição em relação aos temas apresentados nas notícias?
Não, o jornal não comprou briga de ninguém. Sempre noticiamos ouvindo os dois lados, como no bom e velho jornalismo. O que acontece é que tem fatos que merecem um destaque maior por conta da complexidade. Digo isso porque recentemente fui o autor de uma das manchetes do jornal sobre o assunto. Contei o drama de uma mãe que, desesperada, enviou uma carta pedido ao diretor do Anchieta uma bolsa para a filha estudar. Qualquer jornal ou televisão que tivesse o saque faria o mesmo.
Essa matéria que você citou foi matéria de capa, né? O Correio* tem mesmo essa preocupação de dar destaque a notícias de empatia social, tentando aproximar o público do contexto da notícia?
Pois é, é isso mesmo. O jornal tem essa preocupação e é o trabalho de todo jornalista ser um elo entre a comunidade e o Estado.
O Correio* muitas vezes dá destaque a algum tema na capa, inclusive com fotos, e dedica pouco espaço à matéria em si. Muitas vezes a manchete ou a chamada de capa é apenas uma nota na sessão 24h e matérias de pouco interesse ocupam um espaço que poderiam ser dela. Quais critérios o jornal usa para dar maior ou menor espaço a uma notícia?
Bem, essa é uma pergunta para o editor-chefe responder! (risos) Mas a ideia do jornal é diferenciar. Não importa se o assunto vem no 24h ou no Mais, Vida, Vip, Bazar, Esporte, Autos, etc...., se a foto for boa, vai pra capa. Acredito que seja pelo apelo comercial, como uma vitrine de uma loja. Se ela for convidativa, do tipo que você come com os olhos, você entra e provavelmente compra.
Como você avalia o mercado de jornalismo em Salvador? A que você atribui a alta rotatividade nas redações?
É muita demanda para pouca oferta. Dos colegas que tive o prazer de trabalhar, a maioria foi em busca de voos mais altos no sul, sudeste, e até fora do país. Nesses locais, o mercado de trabalho é mais generoso financeiramente (risos), mas a situação por lá também não está sendo fácil. Um colega nosso ganha um salário de pouco mais de R$ 4 mil numa grande revista, onde uma repórter veterana ganha quase R$ 20 mil por mês.
Enquanto jornalista, como você se enxerga na sociedade? Qual você acha que é o seu papel? Dá pra acreditar na força e na autenticidade do jornalista quando se encara a realidade de uma redação?
Sim, claro. Nós, jornalistas, somos os porta-vozes da comunidade. Tem coisas que as pessoas só confidenciam a nós, por uma série de fatores, mas o principal é a falta de confiança nos órgãos públicos. O corre-corre diário vai exigir do repórter paciência e ética, principalmente. Ele tem que ter a consciência de que é um formador de opinião, de que seu texto publicado vai mexer de alguma forma com o leitor, aprovando ou repudiado a matéria.
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