Texto: Daniel Silveira e Thamires Tavares
Fotos: Daniel Silveira
Jorge Gauthier, 23 anos, é repórter e editor interino. Trabalha a cerca de três anos na editoria de cidade do Correio*, que integra política, segurança e cidade no termo básico (infraestrutura, transporte urbano, transporte público, investimentos gerais nas cidades, empreendimentos). Já atuou em telemarketing, no jornal mensal Integração, como editor, repórter e fotógrafo, foi assessor na Meta Comunicação e Viva Interativa.
Qual sua rotina de trabalho?
No jornalismo não tem rotina definida. A gente vem de casa, às vezes com uma programação fria, e a cidade vira no decorrer dos acontecimentos. É um protesto que a gente sabe no dia anterior, que vai ser só um ato em frente à Assembleia Legislativa, mas aí do nada os manifestantes resolvem fechar a paralela, começa a engarrafar a cidade toda e isso se transforma em outra pauta, outra matéria. Então falar em rotina no jornalismo diário é difícil. Assim, a rotina que existe é o horário de fechamento da edição até X horário. Agora assim, no decorrer do dia, é o basicão de fazer a ronda em postos policiais, fontes da cidade, assessoria de imprensa, órgãos públicos... Mas a notícia atropela essa rotina, não há uma rotina fixa determinada e pré-estabelecida. O que eu sei é que vou chegar
aqui e vou ter duas páginas pra fechar por dia no Mais e mais três do 24 horas, mas aí tem um crime em Realengo e o Jornal todo muda e se mobiliza pra isso. Então não tem uma rotina fechada e estanque.
Sobre os seus textos, existe algum método de construção?
O texto depende do assunto. A ideia da matéria que fiz nesse são João sobre o milho, por exemplo, era fazer uma matéria divertida e engraçada que trouxesse alguns dados mais “sérios”. Então, numa matéria sobre uma chacina, não vou poder ter um texto divertido, engraçado, não vou poder usar um lead literário. Em matéria de polícia, é complicado você ousar em adjetivos, em piadas, clichês, porque você tá lidando com o sofrimento alheio. Com todo texto a gente tem que ter cuidado, mas nesses textos de assuntos mais sérios, você não pode brincar tanto. Não existe uma tática pra escrever. Às vezes a inspiração vem de uma aspa que fonte deu, uma piada que se solta na redação, de algum comentário e então o texto se desenvolve. Às vezes eu começo a escrever um texto do final, depois faço o lead, ou faço ao contrário. É muito variado. Varia o assunto, na verdade. Tem assunto que é chato, que tem que escrever e você escreve o basicão, o lide católico: o quê, como, onde, como, quando. Em outros não, como a do milho.
Como é que você se insere na linha editorial do Correio*?
A gente costuma brincar que deixou o parnasianismo de lado, essa coisa mais estanque, por
modificação da linha gráfica do jornal. Hoje qualquer texto pode ser publicado no Correio*. Aqui o texto parece ser divertido, mas tem apuração. É um texto simples, mas no mínimo quatro ou cinco pessoas foram consultadas, porque a gente tem um rigor na apuração, então a linha editorial, principalmente na editoria de cidade, é apurar boas histórias. A forma como escrever depende muito, tanto de uma imagem, como do encaminhamento do dia, se tem muito espaço, pouco espaço. Às vezes você quer escrever bastante sobre um assunto, mas só tem meia página, não tem como definir. Não há uma proibição de se escrever a palavra “zorra”, se escreve sim, depende do contexto. Aqui não tem uso indiscriminado das coisas, a gente não vai usar pra tudo uma piada, não. A linha editorial depende do contexto da noticia, com o dia e com o espaço.
Que tipo de noticia ganha mais espaço no Mais?
Ganha mais espaço aquelas matérias que são mais importantes e que geralmente acontecem mais cedo, porque pela rotina de trabalho, de trabalho gráfico, é muito difícil um acontecimento que seja à
s sete da noite virar abertura do Mais. A matéria no Mais precisa de um tempo maior de produção por que ela requer mais espaço físico, então, um assunto que acontece às nove da noite (como incêndio na Perini da Graça) não tinha condição de ir pro Mais, foi pra página 3. Então assim, acaba indo pro Mais, primeiro, todos os assuntos que são importantes, desde que tenham tempo de produção, mais cedo, meio da tarde, dá pra ir pro Mais. Mas se matam a presidente da república às sete da noite, paciência, o jornal vai atrasar porque vai ser um assunto mais importante, com mais relevância.
Como define o que é relevância e importância?
Entra no dia-a-dia. Se acontece um acidente de transito em Ibotirama que uma pessoa foi atropelada,
e acontece um acidente em Salvador em que três pessoas foram atropeladas, e dessas, duas morreram, eram crianças e uma delas era deficiente mental, a segunda situação traz mais impacto, então entra a relevância e importância. Foram vidas nas duas situações, mas em uma tem mais comoção, pela quantidade de pessoas que foram atingidas. Basicamente isso.
Como se decide o que entra na página 3?
A página 3 pode ser mais quente, um assunto que é tão importante que poderia estar no Mais, mas por conta de ter acontecido mais tarde não está. Pode ser também um assunto que é aposta, um evento bacana ou um fato importante que aconteceu de manhã mas não rende tanto que valha pro Mais e é tão importante que merece mais destaque que o 24 horas, então ele vai na página 3.
Qual o conceito do que deve ir pra o Mais?
Na verdade o jornal tem uma divisão, no caderno 24 horas entram as notícias curtas, mais rápidas do dia-a-dia e no Mais, entra uma notícia mais aprofundada. Em linhas gerais do conceito do Jornal, entra no Mais aquele assunto que rende mais, que tem mais desdobramento ou que é mais importante, ou que tem uma foto melhor. Então assim, se você pegar o Mais, ele tem coordenadas que são textos maiores, então não é só um noticia que acaba por si só, como é a notícia do 24 horas, por exemplo.
O Mais é sempre da editoria de cidade?
O Mais é dividido entre cidade, política e economia. Como geralmente são quatro matérias, são duas de um e duas de outro.
Qual a relação entre o Radar, o 24 horas e a editoria de cidade?
O Radar tem a função de ser um radar, de identificar notícias. Responsável por alimentar o site, que tem atualizações constantes. Quando acontecem coisas na cidade e o radar sabe, eles comunicam a editoria, e se o assunto for importante e bacana, a gente desloca uma equipe pra acompanhar, mas aí depende muito da notícia. Se é tão importante ou não.
Qual a grande diferença entre trabalhar num jornal menor e no Correio* e trabalhar em assessoria?
Como o jornal Integração era mensal, então se tem mais tempo de produção. No jornal diário o tempo é menor, mas o processo produtivo é o mesmo. No jornal diário se tem menos tempo, mas exige-se mais da fonte, pentelha-se mais pra que ela responda no pouco tempo que você tem. Na assessoria você tá do outro lado da notícia, lá você tem que vender a notícia, aqui você compra.
Como é a correria do jornal diário? Qual horário de chegada e saída da redação?
Geralmente eu chego às 15 e saio às dez. Mas já peguei o horário da manhã.
Você trabalhou como editor durante 10 meses. Como é o trabalho de editor e a seleção de
pautas?
Quando a gente chega no horário da noite, quando
vai fechar a página, a gente leva em consideração o que de fato é importante. Às vezes tem que derrubar um assunto que é mais importante, que se você tivesse mais espaço poderia abordar, mas às vezes o espaço é menor, então você tem que apostar e escolher, com o risco de levar um furo, um assunto que é mais importante. Mas não é decidido só por mim. Tem uma reunião de editores de fechamento, que escolhe o que entra e o que sai. Naquela história do acidente, por exemplo, tem que avaliar o valor daquilo pro nosso leitor. Uma explosão de uma mina de carvão no Paquistão é uma coisa e se morreu uma pessoa numa explosão do Metrô aqui é outra proporção. O que é importante pra o leitor do Correio*, um atentado ao Irã, ou um adolescente que morreu por bala perdida na Pituba? Muito provavelmente o que é assunto local deve ser mais relevante. Sempre o interesse do público.
O Correio* tem às vezes duas capas. Qual o critério pra o que vai ser capa da banca e o que vai ser capa do assinante?
Dois tipos de atração. O leitor assinante é o cliente fidelizado, e no jornal de venda avulsa é necessário atrair a pessoa pelo olho, tem que priorizar chamar atenção. Na capa do assinante podem ter mais de duas, três chamadas. Na capa de venda avulsa, geralmente tem menos chamadas que é pra ter uma visão geral, de olhar o que chama atenção. A diferença é essa. Enxuga-se mais a capa do assinante para que a pessoa que tá na rua, no carro, no ônibus possa olhar e visualizar o que de fato é mais impactante.
Vocês do Correio* também escrevem pro site?
Geralmente não. O site, no dia seguinte que o Jornal é publicado, pega algumas matérias e reproduzem. Mas eles podem escrever pro impresso. Com relação aos outros produtos da rede (G1 Bahia, iBahia, TV Bahia), existe troca de figurinhas, mas nada institucionalizado. Mais pela rotina da própria rede, por se tratar de uma rede, tem uma interface de conteúdo.
Você recentemente ganhou um prêmio...
O troféu Dom Helder Camara de jornalismo da CNBB com a série de Irmã Dulce, 20 edições com 32 reportagens. Mas não foram só minhas. Foram minhas, de Alexandre Lirio e Vitor Uchoa. Fomos 4º colocados na Associação dos Magistrados do Brasil com a série sobre ravengar, finalistas do Prêmio Embratel, com a série sobre o pelourinho e finalistas do prêmio Esso com uma matéria minha sobre a crise das UTIs, sobre o caso de uma senhora que caiu da maca no posto de Saúde e morreu, em Periperi.
Conta pra gente uma experiência muito boa de seu trabalho na editoria.
Uma das melhores matérias que eu fiz até hoje, no ponto de vista jornalístico, foi essa matéria das UTIs porque foram mais de 60 matérias sobre saúde, de saúde pública no sentido final, debatendo a crise de falta de UTIs no estado. Nessa matéria que foi finalista do Esso, foram quatro páginas inteiras contando a história de uma senhora que caiu da maca num posto de saúde. Então eu pude, por uma semana, tempo raro pra o jornalismo de jornal, revisitar a história toda daquela mulher. É muito difícil chegar pra uma pessoa que perdeu um ente querido e mexer na dor, porque a partir do momento que a pessoa te conta a historia de novo, tá mexendo na dor que ela sentiu, e assim, foram diversas matérias com idosos, em sua maioria, e isso trouxe um retorno para o estado. Por conta da nossa serie de matérias, teve uma ampliação grande no numero de leitos de UTI, ainda insuficientes, mas na época, pelo menos, teve uma ampliação, e isso é gratificante. Sem dúvida, foi importante no ponto de vista do desenvolvimento pessoal. Tiveram outras pesadas também, principalmente de polícia, que você toma um susto, pensa que vai morrer, tipo Bairro da Paz que as balas passavam por cima do carro. Adoro cobrir segurança.
Tem algo que você não goste de cobrir em cidade?
Nada, é muito divertido. Eu gosto muito de trabalhar aqui, é um aprendizado muito grande.
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