terça-feira, 5 de julho de 2011
"O concorrente do A Tarde é ele mesmo": Felipe Amorim
Por Fabrina Macedo e Gislene Ramos
Felipe Amorim é jornalista graduado pela Universidade Federal da Bahia em 2009. Começou a trabalhar no Correio* ainda graduando, seguindo para o grupo A Tarde em setembro de 2010. Afirma que a faculdade é boa, mas o aprendizado aconteceu mesmo na redação do jornal. Atuando na editoria de Brasil, chegou a escrever matérias sobre economia e política. E, atualmente escreve para a editoria de Cidade, do jornal A TARDE, na qual foram publicadas uma série de matérias sobre mobilidade urbana, tema bastante abordado nos principais jornais da capital baiana.
- Qual é a sua rotina de produção dentro do jornal?
Felipe Amorim: Primeiro você chega, geralmente vem uma pauta que o editor deixa pra você fazer e ai já é programado se é pauta pro dia, para ser publicada no dia seguinte. Outras vezes são pautas para a semana e ai você tem mais tempo pra fazer... dois ou três dias, às vezes até uma semana.
- Quando acontece da pauta ser definida no dia, em que momento isso acontece? Tem alguma reunião?
FA: O editor de cada área, cidade, política, economia, já programa suas pautas. Todo dia de manhã tem uma reunião com os coordenadores de cada área e o secretário de redação, para definir mais ou menos como será o jornal do dia seguinte. Então cada um vai fazendo suas coisas e no meio da tarde, umas 4 horas, depende do jornal, tem uma outra reunião com as mesmas pessoas, para ver, de fato, o que vai ter mais destaque, o que vai ser manchete ou não. Mas ao longo disso, pode ser que surja uma noticia 2 horas da tarde, você descobre uma coisa nova e muda tudo.
- Na reunião, quais são os critérios que vocês utilizam para classificar uma matéria como noticiável?
FA: Na verdade, eu não sei direito porque eu sou repórter, você já recebe pronto (risos). Mas os critérios são os mesmos... não sei se vocês já leram esse texto sobre critérios de noticiabilidade, quando eu era aluno de Giovandro a gente lia, valor noticia, é mais ou menos aquilo ali. As vezes acontece de a gente ter um assunto que o jornal já está dando uma cobertura legal, ai ganha um peso a mais... aquela coisa exclusiva, ganha um peso a mais.
- Quando você trabalhou no Correio, você identificou alguma diferença em relação aos critérios de noticiabilidade?
FA: Não, nenhuma. Os critérios são os mesmo, acho que em qualquer jornal, qualquer bloco, qualquer TV, vão ser sempre os mesmos. O que muda um pouco é o tratamento daquele material. O correio gosta mais de contar histórias, montar diversos personagens, aquela coisa mais dramática... o A Tarde já vai mais por aquela linha de cobrar das autoridades, aquela responsabilidade de cobrar. Os dois têm as duas coisas, mas o Correio puxa mais para um lado e o A Tarde puxa mais para o outro.
- Acontece de uma determinada matéria não poder ser noticiada em virtude da dificuldade em cobrir ou investigar?
FA: Ah tem, se você não tem muita informação sobre o fato, não tem como aprofundar aquilo.
- Já aconteceu algum caso de alguma matéria estar prevista para sair na capa e aparecer algum outro acontecimento não previsto e a matéria não sair?
FA: Eu não me lembro de algum caso especifico, mas com certeza já aconteceu. (risos)
- No período anterior, por exemplo, teve a questão da morte de Osama Bin Laden, por exemplo, que o Correio* fechou edição e ai o evento foi mais tarde e eles só conseguiram colocar uma nota menor. O A Tarde conseguiu...
FA: Tem um caso muito bacana que foi quando Obama tomou posse. Não sei se você lembra-se da propaganda de que o Correio* ia mudar e ele era um dos “garotos propaganda”, tinha um outdoor com ele. Ai no dia do resultado da eleição, por causa do fuso horário, o resultado iria sair bem mais tarde. Ai o Correio* fechou sem o resultado e o A Tarde e a Tribuna esperaram e saíram já com ele presidente.
- E quais são os valores – notícia que o A Tarde considera mais importantes?
FA: É difícil dizer assim, porque isso nunca é tratado explicitamente no dia – a – dia, mas acho que os mesmo de todos os jornais. O que vai afetar o maior número de pessoas, a força da notícia, se é algo grave ou se não é.
- O que é que o A Tarde considera como uma matéria de interesse público?
FA: Eu acredito que é o que as pessoas precisam saber, aquilo que é importante para a vida delas. Mas tem muitas outras coisas que são de interesse público. Matérias de serviço, por exemplo, também tem ganhado um destaque, o que é bacana.
- E tem algum critério para determinada matéria ir ou não para a capa?
FA: Olha, até nós, repórteres, fazemos críticas do tipo: “tal coisa era pra ser manchete ou tal coisa era pra ter uma chamada de capa e não teve”, mas não é um julgamento tão subjetivo assim, porque tem critérios. Mas depende muito de quem está fazendo a capa no dia, às vezes muda o responsável pela capa durante um tempo e você vê que o jornal fica diferente.
- E quando você acha que determinada matéria poderia ser capa e não foi, quais são critérios utilizados para se chegar a essa conclusão?
FA: Interesse público. Porque aquilo era mais importante para as pessoas saberem. Também é uma questão do público leitor, por exemplo, o A Tarde é um jornal local, não é interessante para o público ter com manchete “meta da inflação”, ou coisa do tipo.
- E tem algum critério específico da editoria de cidade?
FA: É um pouco confuso, por exemplo, as matérias sobre mobilidade. O mote ali é a Copa, mas esporte não está fazendo, quem está fazendo sou eu, de cidade, e mais um repórter de política. Então, quem estava coordenando eram mais editores da área de política. Tem coisas que estão na fronteira e a decisão é mais administrativa do que editorial, pelo conteúdo.
- Qual é o publico leitor do A Tarde?
FA: Eles apostam no publico A – B, justamente para o Correio* ficar brigando com o Massa! e tal. O A Tarde tem uma visão de mercado assim, o Correio* já acha que pode brigar com o A Tarde pelo público A – B também.
- E essa visão de que o A Tarde tem o publico A – B está relacionada com o formato do jornal?
FA: O A Tarde é um jornal que tem mais conteúdo, não que isso seja melhor, mas ele tem mais matérias mesmo, são matérias que dá pra você tratar melhor o tema, identificar melhor, tem mais cadernos... isso tudo favorece o publico que gosta de acompanhar política, economia. Isso é difícil de fazer pelo Correio*.
- E quem são os concorrentes diretos do A TARDE hoje?
FA: O Correio* passou em vendagem, tem gente que diz que é por causa do preço, que está muito barato. Eu acredito que o Correio* não roubou leitores do A Tarde, porque ele conquistou um público que antigamente não lia jornal. Eu acho que o concorrente do A Tarde acaba sendo ele mesmo, no dia em que ele começar a investir mais em conteúdo, matéria especiais, fotos boas, estrutura, mais repórteres pra ter um conteúdo diferente dos outros jornais acho que naturalmente sua qualidade vai corresponder ao público. De grosso modo, o Correio* não disputa o mesmo leitor do A Tarde, embora ache o Correio* um jornal muito bom.
- Você considera que o A Tarde trabalha, pelo menos agora, em virtude dessas modificações da concorrência ou isso não influencia?
FA: Sim, lançou – o Massa! por causa disso. Mas não houve mudanças no jornal em si, depois que o Correio passou a se adequar. Mas o A Tarde contratou uma consultoria, né? Então pode ser essa mudança ainda venha a surgir.
- E com relação à linha editorial do A Tarde?
FA: O A Tarde é um jornal especificamente local, em contraposição aos nacionais como a Folha, que cobre Brasília. Mas dentro de uma cobertura local, acho que o A Tarde dá um peso legal à política e economia.
- E com relação aos demais jornais soteropolitanos, como você percebe comparativamente a linha editorial do A Tarde com as dos demais jornais?
FA: Se for para eu apontar uma distinção, creio que o A Tarde é um jornal mais sisudo, trata com mais seriedade os títulos, não que isso seja bom ou ruim, mas como eu vim do Correio*, eu estava acostumado com uma coisa diferente.
- E você acredita que seja possível construir uma notícia sem que a sua visão pessoal interfira?
FA: Não, não tem como. Você está envolvido com o local, mora aqui a vida toda, a vida toda lê o jornal, acompanha a política... mas a questão é você ser honesto. É bom que sua visão pessoal esteja ali também, porque você é um cidadão, se preocupa com as coisas e as outras pessoas. Agora tem todos aqueles critérios: você deixa a outra parte falar, ouve o maior numero de especialistas possíveis, sem dar muito destaque a alguma coisa que pode ser que seja somente uma opinião. Nas reportagens sobre mobilidade mesmo, a nossa preocupação ao fazer as matérias era não dar mais espaço a uma coisa do que outra, e quando tinha especialista falando mal de uma coisa, colocar outro especialista falando mal da outra, BRT ou metrô. Como é que a gente vai saber qual é o melhor? Eu tenho minha opinião, sei o qual prefiro, mas nem sempre a minha opinião é o que realmente vai ser melhor. Então é importante na matéria a gente equilibrar.
- A gente percebeu durante o período de analise, não somente as matérias que você escreveu sobre mobilidade, mas em relação a outras que o A Tarde vem fazendo... quais as intenções e os critérios do jornal em produzir um grande numero de séries?
FA: Dizem que o A Tarde gosta muito de séries, né? (risos). Eu não sei se eles fazem uma analise do tipo “isso prende o leitor”, mas acho legal porque o espaço de uma página de jornal, mesmo a do A Tarde que é grande, é muito pouco. A série é boa porque aquele tema fica na cabeça das pessoas. Pode ser que nem todo mundo leia A Tarde todos os dias, mas os outros jornalistas leem e se está saindo muito uma coisa, de repente o pauteiro da televisão vê “poxa, isso tá saindo muito, então vou ter que dar também”, ai dá na TV, sai nos blogs e muita gente fica sabendo daquilo.
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