"O trabalho 'sujo' é feito pelos editores"
Como a delimitação de um público-alvo afeta seu trabalho, como jornalista/repórter?
Não há uma delimitação, ou pelo menos ela não é perceptível. O Tribuna é lido por pessoas de várias classes sociais e costumo escrever um pouco sobre tudo. Nem mesmo minha linguagem é alterada nas matérias. Aprendi na faculdade que se deve escrever matérias para que um advogado e um vendedor de picolé leiam e compreendam a mensagem. É o que tento fazer sempre.
Qual o principal critério repassado para você como essencial na abordagem das matérias?
Ser diferente. Na verdade aprendi isso desde cedo e é algo que todo jornalista tem que buscar. Um lead original, uma abordagem diferenciada, o assunto sobre outra ótica. Acho que isso é fundamental no jornalismo, além, é claro, de abordar o assunto profundamente, objetividade e clareza.
A seção ‘coluna social’ do Tribuna fica no caderno de cidade. Trata-se de um interesse do público do jornal? Não se vê colunas sociais tão ‘glamourosas’ em outros editoriais...
O Tribuna tem bom desempenho entre as classes sociais de maior poder aquisitivo de Salvador. O que ocorre na alta sociedade baiana é de interesse desse público. Por isso a coluna social do jornal tem tamanho destaque. Ela fala de um assunto que é de interesse de parte dos leitores cativos do jornal.
Como você define a linha editorial do Tribuna?
O Tribuna possui uma linha editoria voltada para as classes A, B e C. Abordamos questões relativas à problemas da cidade, como buracos (http://www.tribunadabahia.com.br/news.php?idAtual=83770), enchentes ou desabamento de casarões (http://www.tribunadabahia.com.br/news.php?idAtual=83106). Por vezes elaboramos matérias especiais, mais literárias (http://www.tribunadabahia.com.br/news.php?idAtual=83106) ou mais rebuscadas, com apuração que demanda mais tempo (http://www.tribunadabahia.com.br/news.php?idAtual=84231). A editoria de política do jornal é muito forte. Entrevistas com políticos baianos de destaque são publicadas a cada segunda-feira. Também há matérias sobre bastidores, o que atrai muitos leitores. Cidade e Política são os carros-chefe do jornal, já que possuem abordagem diferenciada dos demais impressos da cidade. Esporte têm bastante semelhança com qualquer outro meio especializado no assunto no estado. Dificilmente há uma matéria especial ou entrevista com algum desportista importante. Cultura não é tão forte, mas ainda assim possui público cativo. Ela também se limita a reproduzir o conteúdo de shows e filmes em exibição na capital baiana.
Alguma vez você precisou guiar uma reportagem por um caminho que você julgasse menos apropriado por conta de fatores organizacionais?
Sim. Isso é comum em qualquer jornal na Bahia. Os meios de comunicação não conseguem sobreviver apenas com a tiragem e são obrigados a aderir uma política editorial que não permite certas abordagens. Para gerar receita publicitária, os editores acabam omitindo críticas ou adiando pautas. Já tive matérias totalmente reescritas por conta disso. Procuro fazer minha parte. Escrevo o que vejo e o que minhas fontes relatam. O trabalho “sujo” geralmente é feito pelos editores.
A questão da mobilidade em Salvador tem sido tema recorrente em nossos jornais. Você já abordou esse assunto em alguma matéria? De que modo essa abordagem insere a Tribuna no perfil de jornal de Salvador?
Sim. Abordei em uma matéria que questionava se Salvador estaria pronta para receber jogos da Copa do Mundo (http://www.tribunadabahia.com.br/news.php?idAtual=76185) . O Tribuna foi o único a fazer algo do tipo, não apenas abordando a mobilidade urbana, mas incluindo também outros fatores essenciais para uma cidade-sede. O objetivo era não se limitar a apenas um ponto e abrir o leque de problemas que a capital baiana apresenta para abrigar um evento desse porte, se diferenciando, por conseqüência, dos demais jornais, que abordaram apenas as características de cada modal apresentado para solucionar os problemas de mobilidade de Salvador. O Tribuna possui esse perfil de questionar as questões mais a fundo e abrir o horizonte da pauta. É o meio que achou para sobreviver entre o A Tarde e o Correio, jornais lideres em tiragem no estado. Nem sempre é feito, mas é o que se deve fazer.
Jamile Gonçalves e Juliete Santos
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