terça-feira, 5 de julho de 2011

Entrevista
Rodrigo Lago (Chefe de reportagem)


Foto: Rodrigo Lago
''Tenho grande autonomia para responsabilizar pessoas e me responsabilizar por elas também.''

''Não cabe ficar copiando os outros, a ideia é correr atrás do ''furo'' de reportagem. Mas Penso que nem todo dia é um bom dia noticioso.''

por: Edvan Lessa e Célia Cruz

Rodrigo Lago é Chefe de Reportagem do jornal Tribuna da Bahia de Salvador. Ele, que já atuou em outros veículos de comunicação, iniciou seu trabalho na redação da Tribuna como estagiário. Seu cargo de liderança é muito importante para a dinâmica interna das reportagens e direcionamento das editorias Cidades e Política do respectivo jornal. Com grande autonomia na profissão, Rodrigo, formado pelo Centro Universitário da Bahia (FIB), ainda deseja se inserir no meio acadêmico para ampliar a sua formação intelectual. Com grande seriedade e carisma, esse profissional defende o seu trabalho, mesmo ponderando não ser um meio que possibilite grandes ganhos financeiros. Rodrigo Lago, fala nesta entrevista sobre a sua rotina de trabalho; possíveis conflitos existentes na sua profissão; concepções sobre Teorias do Jornalismo e percepções da linha editoria do jornal para o qual trabalha há três anos.
Fale um pouco do seu currículo como jornalista.
Desde quando iniciei a Faculdade, a partir do terceiro semestre, já me preocupei bastante em estar inserido no mercado de trabalho. Logo, comecei um estágio na Embasa, que é um órgão ligado ao governo e tem uma atuação mista, sendo que a sua redação funcionava de maneira muito semelhante à redação de um jornal. Havia um jornalzinho interno que fazíamos mensalmente, e as suas etapas de produção eram semelhantes, eu diria até iguais, as de um jornal comum. Isso foi importante para mim; aprendi muito. Desenvolvi meu trabalho, e consegui ter bastante experiência. A partir daí fui para a Secretaria de Justiça; Secretaria de Saúde. Já atuei em diversos tipos de mídia; trabalhei numa rádio, e na Produção do ‘‘Pida’’, um programa de entretenimento da TV Aratu. Em jornal, a minha primeira experiência foi aqui na Tribuna, sendo que já trabalho aqui há três anos. Entrei como estagiário, em seguida atuei com repórter, e há seis meses obtive o cargo de chefe de reportagem.
Qual a sua autonomia como chefe de reportagem?
A minha autonomia é total. Sou subordinado ao editor, mas apenas a ele. Eu diria que tenho liberdade plena para trabalhar, bem como, para responsabilizar pessoas, além de me responsabilizar por elas também.
A respeito da sua rotina: quais os possíveis conflitos e dificuldades existentes?
O que eu destacaria como uma dificuldade, não diz respeito apenas a minha rotina de trabalho, mas também a todos que, por algum motivo, lidam ou trabalham com pessoas. Então penso que a maior dificuldade está em lidar com pessoas. Atuo com uma equipe enorme, tenho que chefiar toda essa equipe; gerenciar tudo. E às vezes os conflitos existem pelo fato das pessoas serem diferentes umas das outras, então é preciso ter essa função de liderança, chefia, apesar de não gostar muito disso, por outro lado. Principalmente por haver a troca de responsabilidades por todos. O erro de cada um é, também, o meu erro; tento deixar isso de maneira bem clara. O meu trabalho é o trabalho de todos; o trabalho de todos é o meu trabalho.
Qual a sua relação com a editoria Cidades?
Minha relação é total, apesar de também trabalhar com a editoria de política. Meu trabalho é mais voltado à cidade mesmo, assim como, o da grande parte da equipe de reportagem. Mas talvez pela diferença de horários de trabalho, a única editoria mais independente e que não tenho muito contato seja a editoria sobre esportes.
Como analisaria a Editoria Cidades em contraposição às editorias sobre Salvador, presentes nos jornais, Correio*, A Tarde e Massa!?
Igualmente bem preparada e bem estruturada. A gente tem saído muito na frente do Correio*, A Tarde, assim como o contrário também. A gente trabalha muito com ‘‘furo’’. Esse é o nosso principal valor, eu diria. A gente não tem deixado nada a desejar; estamos bem posicionados no mercado. Quanto aos aspectos de diagramação, não posso responder, não compete a mim. Esse é um aspecto bastante pertinente e que vem sendo discutido para trazer melhorias ao jornal.
Tratando-se de Teorias do Jornalismo: Qual a sua concepção sobre valores-notícia?
Quando penso na notícia, me coloco enquanto o leitor que quero atingir. Identificando de imediato o que me interessa o que não me interessa. Logo, observo o que é importante, de interesse público, e o que tem potencial para ser problematizado pelas pessoas.
Analisamos a cobertura dos principais jornais que circulam em Salvador, no período de 01 a 16 de junho, e sinalizamos as construções noticiosas acerca da mobilidade para a Copa de 2014. No entanto, percebemos nesse momento, que a Tribuna da Bahia conferiu pouco espaço para abordagens sobre esse assunto. Como você avalia o valor-notícia desse tema?
Talvez pelo período analisado se tenha percebido isso, porque noticiamos bastante, não só na Editoria Cidades, mas Política também; a respeito do sistema de mobilidade, hotelaria e estrutura para receber a Copa. Inclusive, mandamos um de nossos repórteres para Bogotá, porque nessa cidade já se utiliza o sistema BRT, um dos transportes escolhidos para a Copa de 2014. A ideia era perceber o funcionamento e as possíveis vantagens do modal para Salvador.
Há maior preocupação em atender o ‘‘interesse público’’ ou noticiar o que é relevante para o público - alvo da Tribuna da Bahia?
O público da Tribuna são as classes A e B; preocupamo-nos em preservar e atender esse público que há quarenta anos acompanha o jornal. Por outro lado, não pensamos apenas nesses leitores, mas em todo mundo. Sendo assim, não deixamos a desejar, porque temos condições suficientes de equilibrar o que vai ser noticiado, de modo a agradar todos os que lêem o jornal.
A partir da atuação como repórter e atual cargo, qual a sua conclusão sobre a linha editorial da Tribuna da Bahia?

É difícil falar de maneira precisa qual é a linha editorial do jornal. A Tribuna tem história; foi perseguido por ACM e é um jornal extremamente político. Mas tentamos, por outro lado, ser o mais imparcial possível, trazendo de maneira bastante densa, os assuntos que estão sendo problematizados na esfera política; assembléia, câmara. Somos vitoriosos: ‘‘Damos nós em pingo de éter’’ diariamente. Mesmo com essa estrutura que é muito menor que a do A Tarde, por exemplo, conseguimos chegar à frente com as notícias.
É possível pensar na Tribuna como um jornal conservador?
Ainda é conservadora, porque como havia dito, é extremamente política. Mas buscamos equilibrar o que é noticiado para agradar todos os leitores, sobretudo, o público que há quarenta anos lê o jornal. O equilíbrio é a chave. Prezamos pelos temas que podem ser debatidos, principalmente pelas vertentes que abrimos nas notícias. A ousadia, por outro lado, sempre existiu na Tribuna, mas hoje ela se complementa.
Há um concorrente direto para ela?
Apesar de estarmos acirrados com o Correio*, não consigo ver um concorrente para a Tribuna. Na verdade não existe. A Tribuna está numa esfera menor, onde concorre com ela mesma, seu jornal atinge todo o espaço para o qual se dirige. Existe, por outro lado, a ideia de aproveitar o vácuo existente em certas notícias apuradas por determinado veículo, algo que interessa o público, e a partir daí, amplificar o que já foi noticiado para colocar no jornal, mas isso nem sempre acontece. Não cabe ficar copiando os outros, a ideia é correr atrás do ‘‘furo’’ de reportagem.
Qual o diferencial da Tribuna da Bahia em relação aos outros jornais?
Penso que o diferencial da Tribuna é a vontade de fazer. Há uma estrutura menor que a de alguns jornais, e mesmo com poucos carros para fazer coberturas e apurações o jornal não deixa a desejar. Tem uma equipe jovem e responsável.
As pautas as quais você supervisiona são interessadas no ‘‘furo de reportagem’’, isto é, em chegar à frente dos outros jornais, mas também em satisfazer as expectativas do público-alvo. E como você explicaria a capa da ‘fria’’ da Editoria Cidades do dia 13 de junho, a qual teve como tema o sistema de adoção na capital baiana?

Talvez a matéria tenha sido um pouco fria, mas ao mesmo tempo tenha informado ao público-alvo do jornal. No caso do Correio* do mesmo dia, apesar também de ter trazido um tema inusitado na capa da editoria sobre Salvador, e que não foi noticiado nos outros jornais, trouxe algo mais atrativo de fato. Penso que nem todo dia é um bom dia noticioso.

Segundo o que foi noticiado em alguns veículos você se envolveu num problema com policiais militares. O que aconteceu realmente?
Muitos veículos que não tem compromisso com apuração noticiaram que fui preso por ter desacatado uma policial feminina, ao dizer que ela não sabia dirigir. O único jornal que me telefonou para saber o que de fato aconteceu foi o Correio*. Na verdade, tratava-se de uma manifestação aqui perto, a qual fui direcionado para cobrir. Ao chegar lá, uma policial quase atropelou o fotógrafo que estava comigo, antes que isso acontecesse bati no carro para que ela parasse. Um policial vendo aquilo veio em minha direção e me empurrou brutalmente. Discuti com ele que estava trabalhando, mas ele não acreditou por achar que eu era um manifestante, vendo o conflito, outro policial interviu por reconhecer que eu era jornalista, e eu retornei à redação. Nesse momento, percebi que não tinha anotado a placa da viatura para complementar a notícia, então retornei ao local, quando fui abordado e algemado pelo policial, alegando desacato, com receio de que eu, como jornalista, noticiasse a agressão cometida por ele. Desse modo, fui preso, mas logo depois liberado. O processo está correndo judicialmente para atender as formalidades, mas o secretário de segurança pública, bem como, o departamento de polícia o qual pertence o policial, me telefonou para pedir desculpas.
Esse evento desencadeou outros possíveis transtornos na sua atuação profissional? Houve algum abalo na sua reputação dentro da Redação da Tribuna?
Não sei. Aqui na Tribuna pelo menos não; as pessoas conhecem a minha atuação profissional, então não tive problemas. Fiz uma prova para trabalhar no Correio*, acho que não tive um bom rendimento, mas também não sei se esse acontecimento me atrapalhou de alguma forma.




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