quarta-feira, 30 de novembro de 2011

"Sempre há um gancho mais criativo, sempre há um dado que não foi revelado" | Carolina Parada

Douglas Neves, José Nilson e Pollyanna Couto

Carolina Parada é editora de Cidade do Jornal Tribuna da Bahia, jornal em que trabalha desde junho de 2005. Formada desde 2006 em jornalismo pela Faculdade Dois de Julho, nascida e criada em Salvador, Carolina é uma apaixonada pelo jornalismo impresso.Em entrevista ela contou um pouco sobre seu trabalho na Tribuna,a fama esquerdista do jornal, critérios de noticiabilidade, linha editorial do veículo e a sua visão sobre o público para qual ela escreve.



Existem critérios de noticiabilidade, questões de enquadramento e agendamento. Na prática como funciona essa rotina de escolher o que vai ser noticiado? Especificamente no Tribuna como esses critérios são empregados ?
Na prática os critérios mudam o tempo todo e são muito diferentes do que estudamos em sala de aula. Vão desde o que é factual, e que não pode deixar de ser noticiado, do que é de interesse público e de interesse do público, ao que o jornal deseja fazer, que é sempre publicar matérias que agreguem algo a alguém.


Qual é o foco do jornalismo da Tribuna para você?
Fazer a diferença. Nós estamos na era das mídias instantâneas e o jornalismo impresso precisa se reiventar todos os dias, buscando dentro da notícia o que de fato é manchete, o que pode ser um novo gancho e o que deve ser destacado. A Tribuna já tem por tradição ser pioneira e, por isso, a equipe continua sempre galgando meios de honrar os grandes mestres que deram início a esta luta.

Como funciona a rotina produtiva na Tribuna? Como cada profissional se encaixa nela?
Bom, rotina e jornalismo quase nunca andam de mãos dadas. Os repórteres chegam na redação, recebem as pautas, são orientados pelo chefe de reportagem, debatem o foco da matéria e juntos decidem o meio de fazer aquela reportagem – se vão in loco ou fazem por telefone. No caso dos editores, chegam ao jornal, avaliam o material produzido, o que vai ser publicado, o que precisa ser completado, o que é manchete, o que vai ter destaque nas páginas coloridas. Às vezes, dentro do material produzido, não há uma matéria que seja manchete do caderno. Então os editores correm para internet para ver se acham algo interessante que possa ser publicado ou reescrito por um jornalista ou às vezes por ele mesmo. No final da tarde há uma reunião de pauta com o diretor de redação, que define o que será manchete do jornal, se pondera o peso de cada matéria, se busca orientação e essa troca sempre agrega muito.

Historicamente o Tribuna é um jornal de esquerda. Como é sobreviver em Salvador, onde a maioria dos veículos é sensasionalista?
O jornal já passou por momentos muito mais difíceis e só não fechou as portas por conta do amor dos que faziam parte da equipe. Para a geração atual, nosso dever é dar continuidade a esta tarefa de fazer um jornalismo diferente e justo, sem com isso ser denunciativo, agressivo e sensacionalista. E, do nosso jeito e sempre buscando mais, aprendendo e reiventando todos os dias, nós temos conseguido.

Na construção da notícia o que você procura focar ?
É muito relativo, mas em geral, a orientação para os repórteres é de não se contentar com o óbvio, de buscar a matéria dentro da matéria. Sempre há um gancho mais criativo, sempre há um dado que não foi revelado, sempre há algo mais interessante a ser esmiuçado do que aqui que está em destaque. E é desse jeito que a gente busca o diferencial.

Como funciona no Tribuna a questão de filiais/ sucursais em cidades do interior?
A Tribuna não tem uma equipe muito grande fora da capital, mas temos duas sucursais e algumas colunistas no interior.

Por qual motivo o Tribuna dá muito destaque a um caso? Quais os critérios de noticiabilidade e de apuração são utilizados nesses casos?
Isso varia muito. Às vezes o destaque é natural, no caso de uma notícia factual, de interesse geral; pode ser também por conta de uma matéria exclusiva, ela sempre vai merecer destaque; ou quando encontramos uma matéria dentro da matéria, como recentemente fizemos na greve dos bancos. Enquanto a maioria dos veículos saíram com as mobilizações, desde o início fizemos uma série que mostrou a peregrinação de quem ficava horas na fila, dos milhçoes de aposentados e pensionistas sem receber o benefício, das empresas que não conseguiam pagar seus funcionários, e por aí vai...

Qual o critério de noticiabilidade você destacaria como critério mais importante para a Tribuna?
O de fazer a diferença ao chegar às mãos do leitor.

Qual o público alvo da Tribuna? Esse público é o mesmo ou tem mudado com o tempo?
Temos um público muito variado, de todos as classes, e grande parte de formadores de opinião. Por isso, sempre ao fecharmos uma matéria pensamos que temos que confeccionar um texto que agrade a qualquer pessoa, de qualquer classe, sem ser chulo ou rebuscado demais. Equilibrado.

Você escreve pensando que está escrevendo para quem? Que reação você gostaria de causar no leitor do seu jornal?
A reação que queremos provocar vai sempre depender da matéria, do assunto tratado, mas em geral, queremos que ao final de uma publicação, o leitor pense: " - Olha só, eu não sabia disso, eu posso fazer isso, mas isso estava errado e eu nunca percebi". Em linhas gerais, sempre vamos bater na tecla de fazer a diferença para o nosso público.

Um comentário:

  1. Tenho orgulho dessa minha amiga... uma excelente profissional! Parabéns, Carolina Parada!!!

    ResponderExcluir