terça-feira, 29 de novembro de 2011

“Hoje não temos concorrente porque somos o único jornal popular de Salvador" | Ana Carolina Diniz

Jessica Chagas, Lukas Mattos e Rafael Raña



Ana Carolina Diniz é carioca, formada em jornalismo pela Universidade Gama Filho, e veio para Salvador para trabalhar na implantação do jornal Massa!, do qual é editora.

Qual a equipe atual do Massa!?
A gente tem hoje: eu, três editores: um geral, outro de esportes e outro de entretenimento, cada editor têm um sub-editor. Já somos sete. Temos cinco repórteres, uma produtora que trabalha de manhã, quatro estagiários e a equipe de fotógrafos e os diagramadores nós dividimos com o A TARDE, ficam dois mais focados pro Massa!, mas são do A TARDE.

O Massa! foi criado para atender o público que o A TARDE não alcançava?
Não é exatamente “não alcançava”. Não era focado para. Hoje você olha as pesquisas feitas pelo IBOPE, o A TARDE consegue atingir todos os públicos, mas não era tão focado para as classes C2 e D. A gente tem esse público por causa da linguagem, das editorias, diagramação mais fácil, focado nos problemas da população que não é tão assistida e não tem tanto acesso. Esse é o nosso foco. Não que o A TARDE não atinja, mas não é o foco dele.

Qual é o principal concorrente do Massa!? 
Atualmente o Massa! não tem concorrente direto, porque é o único jornal popular. A gente não tem concorrente levando em conta o mercado. Atualmente concorrem o A TARDE e o Correio, mas apesar de ter o mesmo preço, o Correio não é o nosso concorrente. Nós não disputamos público com ele. Como o slogan dele fala, ele atinge “públicos de A a Z”. A gente só fala com o nosso público mesmo. Hoje não temos concorrente porque somos o único jornal popular de Salvador, região metropolitana e outras 14 cidades que atingimos.

Qual o critério utilizado para um fato se tornar notícia no Massa!?
[Pausa] Acho que não se trata de preferência. Acho que buscamos aquilo que a gente pensa que vai atingir o maior número de pessoas/leitores. Então noticiabilidade e proximidade são os que eu acho base para o jornalismo popular, aquilo que está bem próximo do teu público. Se acontecer um problema nos Estados Unidos e outro na Paralela, obviamente eu vou dar preferência ao da Paralela. Porque está próximo do leitor: ele passou por ali, se atrasou para o trabalho ou para levar o filho para escola por causa daquele acidente. Então, se leva em conta a proximidade quando se fala de matéria geral ou local. Sobre as outras, a gente procura ver o que todo mundo está comentando. Nós tentamos fazer do Massa! um jornal muito quente: nós entramos muito em redes sociais para ver o que as pessoas estão comentando. A gente tenta levar esse conteúdo da Internet ao público que não tem tanto acesso a ela para ver notícia. Nós colocamos esse conteúdo da Internet, que a gente acha que vai mudar a vida dele um pouquinho. Os jornais que custam R$ 0,50 os estudiosos chamam de semi-gratuito. Mas eles são semi-gratuitos para quem tem dinheiro. Quem não tem vai escolher entre comprar um pão e comprar um jornal. Então o jornal tem que ser muito interessante da capa até a última página, tem que interessar o leitor, tem que agregar alguma coisa para ele. Tem que ser algo que ele possa discutir com o filho em casa ou com o pessoal do trabalho, tem que ser algo que o deixe bem informado... A gente tenta tornar o jornal útil de fio a pavio, da capa até a última folha, porque tem que valer a pena para ele voltar no outro dia e gastar os R$ 0,50 do dia em algo que valha a pena.

Segurança é o foco principal do Massa!?
Não é. A gente não tem foco principal. O jornalismo popular em si é voltado para esportes, serviços e segurança. Sabendo disso, nós vamos escolhendo estes assuntos e fazendo um rodízio com eles dependendo do dia. O foco não é segurança. A gente fala de segurança porque infelizmente é a realidade que a gente vive. Se vivêssemos na Suíça falaríamos de outra coisa [risos]. Segurança é um assunto que preocupa muito e mexe muito conosco, mas o Massa! não é pautado em segurança e violência, não. A gente tenta mesclar bastante os assuntos e publicar o que vai ser importante no dia seguinte para o leitor.

A rotina produtiva do Massa! é diferente da do A TARDE por ser um jornal mais popular?
Sim e não, porque no jornalismo a rotina acaba sendo parecida. A única diferença é que como a nossa equipe é menor, a maior parte da equipe começa a trabalhar à tarde. Nosso fechamento é às 11 horas da noite. Cerca de uma ou duas horas da tarde que a equipe em peso começa a chegar. De manhã só estão aqui um repórter, dois estagiários e a produtora. Talvez por isso seja um pouquinho diferente do A TARDE porque eles têm uma equipe maior, que está aqui de manhã e de tarde. Mas o esquema de trabalho e produção é o mesmo: apurar notícias, apurar, estudar, ouvir fontes, ir pra rua... Talvez o que diferencie mais são as matérias mesmo, as pautas. Se o prefeito está fazendo algo na Assembléia Legislativa ao mesmo tempo em que tem uma festa para a Miss Cajazeiras, a gente vai cobrir a Miss Cajazeiras e deixar a Assembléia Legislativa pro A TARDE. O A TARDE não vai cobrir a Miss Cajazeiras e a gente vai. Tem diferença na escolha e no foco que a gente vai fazer. A nossa equipe é muito pequenininha, tem cinco repórteres, a gente tem que dar o tiro certeiro. Não podemos errar, mas, às vezes, é claro que a gente erra. Nós procuramos ao máximo não errar porque são só cinco pessoas, embora a gente pegue também muita coisa da Internet e do A TARDE.

Qual a razão para a equipe ser tão enxuta?
Equipe de jornal popular é enxuta. A equipe do Massa! já está no meio termo. Antes de lançar o Massa! os editores, antes de eu chegar, fizeram uma pesquisa em todos os jornais populares do Brasil e a conclusão foi que a equipe de um jornal popular vai de 11 funcionários até os 42 que tem o Diário Gaúcho, a maior equipe. O jornal em que eu trabalhava lá no Rio de Janeiro, por exemplo, tinha 11 pessoas. A gente aproveita todo o material do “jornalão”. É por isso que o jornal popular pode ser enxuto, porque tem um jornal maior dando base e cobertura: dá pra pegar matérias, usar pessoal... Então para ele ser viável tem que ser enxuto. O tamanho é menor, os anúncios são mais baratos, se tiver uma equipe enorme ele não se paga, ainda mais custando R$ 0,50.

Porque que as capas do Massa! na maioria das vezes estampam segurança, entretenimento, esportes e uma mulher? 
Porque são os pilares do Massa! e do jornalismo popular. Tem esporte, entretenimento... Aquelas coisas que mais interessam nosso público. Infelizmente tem segurança, violência, o acidente, que são as coisas que mais chocam e atingem as pessoas. É para ser um jornal quente para o leitor. Mas nada impede que, se haja um tsunami, nós venhamos a dar a capa para o tsunami. A gente coloca no jornal aquilo que está acontecendo, o que vai ser assunto no dia seguinte no ônibus, no botequim, na praia... Nós queremos ter um jornal pulsante. É desse jeito porque foi o que aconteceu no dia anterior, mas se tivesse uma guerra ou um tsunami, nós colocaríamos. Eu sempre falo desde o início que jornal popular não tem nenhuma restrição de assunto. “Ah, vocês não falam de política e economia!”. Falamos sim, do nosso jeito. A gente tem uma página de economia popular que fala de décimo terceiro, como cuidar do salário, onde você pode investir... Não é macro-economia, mas é micro economia. Se a Dilma lançar um plano que mude tudo, nós vamos lançar explicando do nosso jeito. O Obama lançou um plano ou os Estados Unidos entraram em crise: nós colocamos, mas do nosso jeito. Fomos ouvir as pessoas, economistas, porque a gente não estava entendendo nada. Como é que nós atingiríamos o nosso público? Como a gente poderia transformar isso? No Massa! não existe assunto proibido, existem abordagens proibidas. A gente tem que atingir o nosso pessoal e nós sabemos quem nós queremos atingir. Não tem como a gente colocar uma matéria da Agência Folha para um leitor do Massa!. Podemos dar o mesmo assunto, só que do nosso jeito, da nossa forma, ouvindo as pessoas e nossas fontes, falando com o povo, que é nossa fonte principal. Se você reparar, em todas as páginas tem um bonequinho de alguém dando depoimento. O “Fala Povo” é prioridade nossa. Em política, quando Dilma foi eleita, nós demos capa. Quando cai um ministro a gente dá uma página.

Por isso que há tanta informalidade na linguagem?
Sim. A gente tenta se aproximar dos nossos leitores. A maioria deles é de primeiros leitores. Eles não tinham interesse e nem acesso a outro jornal. Por quê? Porque o assunto vem muito grande, ou não interessa para ele... Então a gente tenta transformar a leitura mais fácil para ele com textos menores, palavras mais simples, para não criar nenhum tipo de interrupção na leitura. Para ele não falar: “Nossa! O que é isso?!” e jogar o jornal para lá, mas sim para ele se interessar e aprender. Meu objetivo sempre com o Massa! é que o leitor seja sempre fiel e daqui a pouco ele esteja lendo o A TARDE porque o Massa! para ele não vai ser mais o suficiente. Ele se tornará um leitor tão assíduo que vai querer um algo mais, ler mais.

Então o Massa! quer acabar seduzindo a pessoa para criar o hábito da leitura?
Claro! Com certeza. Vendedores de jornal diziam: “Antes de vocês, nós nunca vimos tanta gente lendo jornal em Salvador”. Se você vai à Estação Pirajá, você vai ver todo mundo com o Massa!. Por quê? Porque interessa para ele de alguma forma, porque ele sabe que ali vai ter algo que interessa para ele, ele não vai comprar um jornal à toa. Ele lerá rápido no ônibus ou em qualquer lugar e bastará para ele ficar bem informado, para ele conversar com o filho, para ele ter assunto no trabalho, pois, para essa classe o saber também é importante. Então naquela leitura rapidinha ele estará informado de tudo e saberá argumentar. Geralmente, é o primeiro jornal que ele pega, o primeiro passo da leitura. Por isso que ele tem um formato diferente, notícias mais curtas, linguagem mais fácil e coloquial, uso de gírias, fotos bonitas e grandes, para a leitura ser acessível e não tão cansativa. Para não ser um fardo ele ler 32 páginas. Quando ele falar “Eu quero ler mais”, aí ele vai estar pronto para me abandonar.

Ao analisarmos em sala, vimos que o A TARDE deu mais destaque para a Semana da Consciência Negra. Por que o Massa! não fez o mesmo já que é um jornal popular?
Eu acho que vocês deveriam fazer a pesquisa novamente. Nós demos uma página diária para o assunto, o que para o Massa! é um destaque enorme. Nós cobrimos o evento de segunda a segunda. No dia do evento, nós demos três páginas. Eu acho que vocês têm que refazer sua pesquisa. Vocês têm que perceber que o A TARDE é um jornal e o Massa! outro. Para o Massa!, uma página de um assunto é muito destaque. O principal assunto ganha a página três, os outros disputam entre si uma vaga no jornal. Para um assunto ganhar uma página ele tem que ser muito importante. Então o dia da Consciência Negra foi muito importante para a gente. Nós demos uma página diária, cobrimos o Afro 21 e no dia da Consciência negra nós demos três páginas, o que é para o Massa! o equivalente a um caderno especial praticamente. Em minha opinião vocês estão equivocados, nós demos importância sim e bastante. No que eu vi de cobertura, eu acho que a gente foi muito bem.


Houve dificuldade para fazer a cobertura da semana das chuvas deste mês, principalmente no dia nove? 
Nós pegamos muito material do A TARDE, que como veio desde de manhã, conseguiu fazer uma cobertura bem ampla. Nós ficamos mais nas redes sociais mesmo, vendo como é que as pessoas estavam passando por aquele sufoco e vendo as brincadeiras que “bombaram” naquele dia de caos. Mas o A TARDE conseguiu fazer um esquema muito grande, conseguiu dividir a equipe por vários locais para poder dar uma cobertura bem ampla e gente pegou o material deles e mesclou com o nosso, falando pouco, dizendo como as pessoas conseguiram se segurar até chegar ao trabalho. Fala-se muito dos alagamentos nas regiões principais que são a Paralela, Iguatemi, Garibaldi e nós fomos lá no subúrbio ver como é que as pessoas, que são nosso público, estavam. Nós colocamos “botinha” e fomos. Eu fiquei aqui, os repórteres que foram [risos].

Um comentário:

  1. O Rio de Janeiro tem um grande tradição de jornalismo popular. A exemplo do Última Hora, O Povo, dentre outros, o Massa! vem somando cada vez mais a Salvador com seriedade,competência e dinamismo característicos deste produto. Excelente entrevista! Parabéns Ana Carolina. Sua equipe deve estar orgulhosa de seu desembaraço e coesão. O Massa! tem muito a ganhar com o seu profissionalismo.

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