sexta-feira, 8 de julho de 2011

Alexandre Lyrio: repórter do caderno Mais, da parte BaSal (Bahia e Salvador), do blog Moqueca de Fatos e ex-faconiano.

José Calasans e Alice Daltro

Formado em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação (Facom) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Alexandre Lyrio (alexandre.lyrio@redebahia.com.br), repórter do Mais do Correio, da parte editoria chamada BaSal (Bahia e Salvador), concedeu-nos uma breve entrevista para este trabalho acadêmico.


Além de seu trabalho convencional como repórter, embora, ultimamente tenha feito mais matérias do tipo “frias” (especiais), escreve no blog Moqueca de Fatos, do Correio 24h. 


Em seu ambiente de trabalho diário, por meio da boa vontade de seu chefe, Alexandre tira alguns minutos de sua rotina de repórter, para nos dar sua opinião e expor experiências deste universo de nosso interesse, estudantes de jornalismo.


Um fato causou uma maior identidade com o repórter, além da sua gentileza em dispor de alguns minutos tão preciosos neste trabalho de causar cabelos brancos, como brincou ele, ele já foi aluno de nossa faculdade, portanto, viveu quase tudo o que viveremos, quanto a disciplinas, experiências e descobertas profissionais, como verão no decorrer da entrevista.


Quando você estudou na Facom?
Bem, eu entrei na Facom, no segundo semestre do ano de 1999.


Começou como estagiário no Correio?
Não. No segundo ou terceiro semestre (não lembro bem) eu comecei a estagiar na TV Aratu com esportes. Na verdade, foi um estágio mais profissional, pois, comecei já como repórter de esporte e trabalhei por lá, durante cinco anos, nessa de “estagiário”.
Então, um belo dia surgiu um teste no Correio da Bahia, que Pablo Reis me avisou sobre. Fiz o teste e hoje estou aqui, muito feliz com a decisão que tomei, de ter saído da televisão, embora eu goste muito do texto de televisão, que nos dá mais liberdade, mas é no impresso que ocorre o jornalismo mais intenso e por isso permaneço aqui no Correio*.


A partir de suas experiências, diga-nos, como entende um furo jornalístico?
Nos jornais impressos de hoje, o furo jornalístico é o que há de mais importante, em todos os sentidos. Posso dizer que é a base de sobrevivência, basicamente, o jornal vive de furos.
Afinal, o que segura um jornal impresso, como o Correio*, são matérias bem pensadas e bem elaboradas, é disso que vivemos, de ter boas idéias. Estamos sempre “quebrando a cabeça” para ter boas pautas e assim ótimas matérias, trazendo bons resultados para o jornal e um conteúdo de qualidade para o leitor baiano.
Mas, o furo em si, também é uma questão de sorte, não só de competência.
Outro dia, por exemplo, estive no Farol da Barra, fazendo uma matéria do tipo “fria” sobre turismo. Levei um rapaz daqui que é bem branco e aparenta alguma descendência com uruguaios, para se passar por turista, pois, pretendíamos registrar a diferença de tratamento dado aos turistas em relação aos baianos, tanto na questão econômica, quanto social mesmo, mas tivemos de pará-la no meio, pois, ocorreu um tiroteio lá mesmo (considerado como furo).
Considero necessário que o jornalista possua uma agenda de fontes “azeitada”, como costumamos dizer, para produzir bons furos de reportagem. É muito freqüente o recebimento de ligações dessas fontes, para “salvar” o nosso trabalho.
Ouve também um caso de matéria sobre um roubo a uma joalheria, que só por ter conversado um pouco com o segurança, descobri que este era um orientador de clientes e que recebia um salário por isso, logo, tal curiosidade já me fez ter mais uma pauta.
É disso que o jornal necessita para se firmar, boas fontes e tino jornalístico por parte dos repórteres.


Há contrastes entre o jornalismo acadêmico e o jornalismo do seu cotidiano?
Eu considero que na Facom, temos muita teoria e isto não é ruim, afinal, nos dá uma noção muito boa do que é esta atividade tanto ideologicamente, quanto no decorrer da história e toda a teoria que vocês estão estudando. Acredito que faltam mais disciplinas práticas. Eu gostava de estudar semiótica, eu me interesso pela forma de visão que você adquire a respeito das coisas. A disciplina de estética, também não fica atrás. Ambas foram muito úteis.
Lembro que tinha um professor do tipo “linha dura” na Facom, um gaúcho, que já deve ter saído de lá. Esse professor era bem experiente, contudo, muito teórico e com isso, nós estudantes, acabávamos ficando meio que sem muita noção do mercado de trabalho.


Qual o público alvo do Correio, para você?
Como não sou dessa área, que envolve pesquisa e estatística, o Editor chefe é quem poderia responder melhor a isso, pois sou um mero repórter. Mas, sei que se fala muito de que é feito para classes C e D e pior é que falam, ou melhor, acusam o Correio de ser um jornal sensacionalista. Eu discordo disso completamente. O Correio consegue avaliar o que vale um maior aprofundamento e o que não vale tanto assim, normalmente nós somos bem equilibrados nesse sentido. Sabemos usar de chamadas, títulos bem pensados/criativos de forma vendável, afinal, o jornal precisa ser vendido, pois, somos uma empresa acima de tudo.
A abertura do caderno Mais não tem anúncio algum, vale ressaltar. Mas é claro que, às vezes, cometemos erros, deixamos de ir mais fundo no que devíamos e podemos deixar passar algo que deveria ser mais bem explorado por nós. Somos versáteis, pois, o nosso formato gráfico, permite que coloquemos no 24 Horas as matérias menores, com textos menos aprofundados, com uma foto ruim ou até mesmo sem fotos. Também, quando ocorre, ao invés de não ter foto, termos uma boa foto (bem tirada e ou chamativa) nós usamos da Página 3, afinal, é onde o leitor ao abrir o jornal irá se deparar logo de cara, trazendo-o para a leitura da respectiva matéria e das outras.
Enfim, o que quero dizer com isso é que o Correio* vence dos demais, pois, consegue vender bem as matérias, com chamadas criativas e fortes na capa. Quanto ao público, acredito que varie entre classes B e C. Mas é muito relativo, mesmo. Por exemplo, há muitas pessoas de classe A ou B que não leem o caderno Vida, pois, não se interessam por ele.
Uma experiência própria: Fiz diversas matérias sobre Irmã Dulce, chegamos a ganhar um prêmio por isso e é tudo resultado de o jornal ter apostado em tal conteúdo, pois, somos equilibrados, como disse antes, não somos sensacionalistas, mas sabemos vender com qualidade e chamar a atenção sem nenhum tipo de abuso.


Quais os critérios de noticiabilidade mais importantes? A morte é maior?
Não necessariamente. Por exemplo, se o governador bater a testa numa bancada, isso virará notícia, sem necessariamente que ele morra ou que sofra algum acidente grave (brinca). Isso da importância depende muito da dimensão do acontecimento e do número de leitores, ou seja, se o assunto irá atingir uma quantidade considerável destes.
Acho interessante e ao mesmo tempo estranho, pois, hora ou outra me pego pensando nisso: Um dia apostamos num determinado assunto, que outrora, até mesmo na semana passada, não foi dada o devido valor, talvez por ter acontecido antes algum outro evento de grande porte que tenha ofuscado a nossa visão e também ocorre o contrário, deixarmos de dar a devida importância a algo e depois percebermos o erro.


A concorrência jornalística chega ao ponto de modificar uma matéria já existente ou a ter de investir em alguma, excluindo outra?
Isso depende também, porque ocorrem momentos onde há forte concorrência e outros em que ela não existe, afinal, algumas matérias são muito exclusivas. O assunto é deles (concorrência) e pronto. Quando há essa possibilidade de competir, tanto furos jornalísticos, como assuntos em alta, nós “nos jogamos de cabeça”, corremos atrás e muitas vezes conseguimos dar melhor que eles e em outras não. Acontece muito dos jornais se pautarem. Pois, nossos furos pautam o concorrente e os furos dele nos pauta também.
Teve uma matéria minha que foi muito comentada na época, de Propina em cartórios, pois, usei de uma câmera escondida para flagrar o ocorrido e é claro que a concorrência não tinha o que fazer, afinal, a gravação nos pertencia, eles não tinham nenhum material, o furo era do Correio, portanto, exclusivo. No máximo, o concorrente fez um comentário ou algo relacionado no dia posterior, mas fomos nós os únicos que por vários dias exploramos o tema.


Em dias de poucas notícias, embora, quase impossível, vocês sentem a necessidade de preencher o espaço (folhas), com diversidades de acontecimentos, mesmo não tão importantes?
Isso realmente é muitíssimo difícil, ainda mais no correio com o espaço reduzido. Tem dia que temos uns determinados assuntos, mas, estes não são suficientemente fortes, não dão uma boa capa e ou não possuem foto. Costumamos não só nesses casos, como normalmente mesmo, buscar recursos gráficos variados, infográficos e figuras para substituir/acrescentar nas matérias. Acho que uma foto diz muito. Tem o mesmo valor de um texto.


Como é a sua rotina de trabalho?
Às vezes passamos 12 horas numa redação. No meu caso, sempre trabalhei de manhã e nesses casos, já é quase de lei que chega a hora do almoço, você vai, almoça e volta ao trabalho e quando vê termina o expediente no turno da noite.
Embora, ultimamente tenho ficado com o turno da tarde para produzir matérias “frias” (especiais). Costumo usar o tempo que me sobra com as fontes e então chega um momento que tenho de parar para terminar o texto. Há uma máxima do jornalismo que é mais ou menos assim: Uma hora temos que parar de apurar, senão a matéria não fecha.
Com a chegada do atual Diretor de redação, diminuiu-se a carga horária nos finais de semana, pois, quando você faz o plantão em um final de semana, depois, ganha três outros finais de semana de folga.
As matérias frias foram feitas durante a semana e no final de semana, no plantão de Cidade, todos trabalham nestas áreas, para remanejar o jornal.
É até engraçado, pois, o chefe fica no pé da gente para não darmos hora extra, mas também fica no nosso pé para fazer uma boa matéria, usarmos as fontes e etc..


As matérias do Correio costumam atender a uma política da empresa ou o jornalista é completamente livre para escrever, sem ter de se vigiar em discussões políticas?
Eu trabalhei no antigo Correio da Bahia e realmente ele era mais político do que hoje, pois, desde a mudança para o Correio* (atual), a o próprio dono preferiu reduzir sua carga política, tanto que hoje a área de política não é tão explorada assim. Mas, a tendência política no antigo Correio restringia-se a parte específica de Política.
Eu que trabalhei na editoria de Cidade, percebia uma autonomia muito grande, mas, é claro que não se podia bater de frente, afinal, temos sem um dono. Naquele antigo jornal, além do caderno de Cidade tinha também o de Repórter. Contudo, nós considerávamos muito injusto que falassem que éramos tão políticos assim.


Em qual horário costumam fechar a edição do jornal do dia seguinte?
Acostumávamos, por questão de impressão (da gráfica) a fechar uma primeira rodada umas 20h30 e a segunda rodada por volta de 23h, mas, atualmente só temos uma rodada, que ontem fechou às 22h.


De quais formas vocês costumam chegar até um acontecimento, como são informados?
Fazemos rondas, onde repórteres e o pessoal do site fazem entram em contato com a Polícia, Transalvador, Bombeiros e Defesa civil, nas busca por crimes e acidentes. Também podem vir por meio das fontes de reportagem. Depende do jornalista, possuir e saber lidar com as mesmas.
Posso dizer que: Linda Bezerra (chefe de reportagem) é uma fonte inesgotável de fontes.
Há também os casos das fontes telefonarem para cá sugerindo algo ou até mesmo os próprios leitores que escrevem para o jornal.


Há alguma dificuldade no transporte de jornalistas para cobrir matérias na rua?
Não. Assim que chegam as informações de um caso que necessite logo de uma cobertura, enviamos alguém o mais rápido possível. Devemos possuir uns nove carros disponíveis aos jornalistas, mas já ocorreu numa ocasião rara, de termos pego um táxi.
Deseja dizer algo mais aos estudantes de jornalismo da Facom?Para ser clichê: Jornalismo é uma profissão apaixonante, apesar do salário, afinal o mercado é muito cruel mesmo. O jornalista tem de meter a cara para estudar e entrar no mercado, sendo um bom repórter.


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