domingo, 1 de julho de 2012

“Se você tem uma tendência para um lado ou para o outro, isso fica evidente na matéria. Isso faz com que se perca a credibilidade a curto ou em longo prazo” | Alexandro Mota

por Guilherme Reis, Vitor Gabriel e Victória Libório



Aluno do 6º semestre de jornalismo, Alexandro Mota já fez assessorias de uma ONG e de um deputado na Assembleia Legislativa da Bahia, foi  bolsista de iniciação cientifica CNPq com pesquisa sobre planos de comunicação para estudos de saúde, como o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto, ligado ao ISC - UFBA e participou da 1ª edição do Programa Jornalismo de Futuro. A partir daí, as portas para ele começaram a se abrir. Hoje é estagiário do Correio*, publicando matérias quase que diariamente. No Jornalismo de Futuro, ajudou a elaborar o caderno ZIN! Escreveu, em parceria com uma colega, a matéria de capa. Para ele os critérios de noticiabilidade não são tão calculados como se estuda nas Teorias do Jornalismo: “Eu não sei se é tão calculado e fechadinho desse jeito”.


Como é o seu dia a dia?

Eu estudo pela manhã e estou no Correio pela tarde. Costumo pegar em média às 13 horas e saio ao final das pautas, que quase nunca têm horário determinado. Geralmente existe uma variação. Às vezes eu trabalho duas, três horas... Por exemplo, hoje mesmo eu vou pegar três horas para ficar até o fechamento. Sempre tem mudanças rotineiras. E a gente trabalha dois finais de semana, na verdade um sábado e domingo no mês, que é o que chamam plantão, e folga os outros três finais de semana.

Você acha o Correio um produto popular?
Quando você chegar à [professora da Facom] Itânia Gomes, vai rever essa noção de jornal popular. Eu acho que, apesar de ter se tornado um clichê dizer isso em relação ao jornal, acho que é variado. Porque você tem um jornal que fala de economia de uma forma densa, o que não é algo popular, mas também fala de crimes. Até tem essa distinção. De um jornal que vende a cinquenta centavos, mas de fato, não acho que esse valor o torna popular porque o torna acessível. Não coloco nenhum juízo de valor para caracterizar o Correio como um jornal de classe C e D. Não acho que é melhor, ou mais legal, dizer que é um jornal para A e B. Acho melhor dizer que é um jornal misto. Na produção, é um jornal misto no conteúdo. Você vê o A Tarde: ele é claramente pontual em relação à síndrome de ser um “jornalão” como é o The New York Times e a Folha de S. Paulo, de temas rebuscados, com textos mais densos... Isso de fato o posiciona no lugar de um jornal que eu diria quase que exclusivamente A e B. Mas o fato de o Correio ser mais flexível para ter, às vezes, textos que beiram o jornalismo literário, ou outros textos que são de fato como as grandes agências de notícias, mas que se levam a sério, não há bloqueio que ele seja consumido como um jornal sério. Como mostra uma pesquisa, as pessoas passam pouco tempo com um jornal impresso, e elas selecionam aquilo que elas querem ler, ou não. O jornal não oferece um conteúdo pra A, B, C ou D, ele permite que você tenha possibilidade de comprá-lo, independente da classe social que está, vai ler aquilo que lhe interessar. Tem um conteúdo que se flexibiliza dessa forma.

Qual a linha editorial do Jornal?
O jornal, no geral, tem muita abertura quando se trata da formação das pautas. Existe sim, às vezes, expectativas em relação às pautas. Espera-se que tal coisa seja feita, porque isso que constrói a notícia. O repórter quando vai pra rua, ou quando apura independente de ser na rua ou não, ele procura pela verdade dos fatos. E como todo bom jornalista, você preza por observar todos os ângulos da questão e o equilíbrio dos fatos. Existem coisas que se sobrepõem às outras. Isso é uma coisa que eu já vi muito. Se você tem uma fonte oficial e tem uma fonte secundária, digamos óbvio que de alguma forma o que uma fonte oficial diz tem um peso maior. Isso eu não acho que seja nem uma editorialização, mas é uma questão de você saber medir quem tem uma autoridade para falar sobre esse ou aquele fato.

Pertencendo a um grupo político, há influência na publicação de alguma matéria?
Eu não acho que existe direcionamento. Por mais que saiba que pertence a um grupo, uma família. Mas nesses seis meses de experiência que eu tenho, não percebi nenhuma ingerência, nem nenhum direcionamento para esse ou aquele ângulo. E eu acho que isso que faz com que o jornal tenha credibilidade. O leitor percebe. Se você tem uma tendência para um lado ou para o outro, isso fica evidente na matéria. Isso faz com que se perca a credibilidade a curto ou em longo prazo.

Você sente falta de uma Editoria de Política no Jornal?
O jornal já tem uma editoria que é o “poleco”, política e economia, que geralmente trata mais dos fatos nacionais e internacionais, mas também trata da Bahia. E recentemente foi o Jairo Costa Júnior, que é repórter especial e quem geralmente cobre as pautas de política, junto com Rafael Rodrigues, outro repórter, que estão fazendo. O que eu não sei lhe dizer é se já foi instituído como uma editoria, mas eles já estão separados e já estão trabalhando cobrindo política. Não sei se isso vai perdurar depois das eleições. De alguma forma, já tem uma organização de editoria. Eu não sei dizer se isso já foi instituído. Mas já foram separados da editoria de cidades especialmente para isso. Eu acho importante ter essa mudança. Até porque política é algo que requer primeiro, muito conhecimento específico do campo e requer também que os repórteres não só estejam no meio, mas que também sejam de alguma forma conhecidos para que possam cativar a fonte, então é importante ter essa divisão pra que o trabalho de alguma forma flua, permita que haja um acompanhamento, para que as matérias sejam mais quentes, etc.

Quais são os critérios de noticiabilidade dentro do Correio?
Critérios de noticiabilidade, eu acho que seja uma coisa importantíssima para se discutir na faculdade, mas que na prática é muito difícil você identificar. Como é o processo de escolha? Porque às vezes que você vê uma coisa que no início do dia parece ser o mais importante, no final não é mais. Muito complicado. O forte é dizer que as coisas que têm relevância na cidade, especialmente para Salvador. Apesar de que estamos dando muita coisa de interior, porque o interior tá crescendo muito e esse crescimento vêm cheios de problemas, problemas das capitais, como a criminalidade. Geralmente o que é de interesse da cidade, o factual e o que é mais quente; não tem como não terem fatos. É muito difícil explicar, porque não tem explicitado isso de escolha da noticiabilidade. E eu também não sei se as escolhas são tão calculadas como a gente estuda nas Teorias do Jornalismo. De dizer que uma morte vale mais do que tal coisa. Eu não sei se é tão calculado e fechadinho desse jeito.

Já ocorreu de você não cobrir alguma coisa porque não teve recurso, ou de uma pauta cair durante o dia?
Isso de se deixar uma pauta no meio acontece muito. Principalmente por conta de acontecer algo mais importante e você ter que ir cobrir. Outra coisa é que às vezes você está num lugar e te chamam pra fazer cobrir outra matéria. Por exemplo, vou pra uma reunião, chego lá, não necessariamente eu preciso ficar até o final pra saber de tudo, mas posso falar com uma pessoa, cativar uma fonte. Pego o telefone dela e falo: “Olha, te ligo mais tarde para saber como foi o final.” Não é o ideal, né? O ideal é que você acompanhe a pauta até o final. Mas acontece de você está em um lugar e pode acontecer alguma coisa mais importante. Às vezes você é chamado para cobrir uma manifestação, às vezes as pessoas ligam: “-Olha, fecharam a paralela.” Aí você vai lá e tem umas cinco pessoas. Não vale, entendeu? A pauta cai por si. Você vai fazer outra coisa, você tá na rua, se tiver outra coisa pra fazer, você vai fazer logo. Então, é muito comum isso, e a gente que tá na rua, a gente tem a possibilidade de indicar uma pauta, defendê-la ou criticá-la. Quando você sai você sente o clima, o que pode ser de fato mais importante ou menos importante por seus contatos com a fonte. Dá pra perceber se a pauta é a aposta do dia, ou se ela vai cair. Eu acho muito bom, porque eu acho injusto com o leitor, você noticiar, ou dar determinada importância a algo só por uma questão de planejamento. É importante que esse planejamento tenha uma deixa para o que for de importante ter mais espaço e ser valorizado. E o que não for de interesse da cidade, que caia ao longo do dia mesmo. Ontem eu recebi cinco pautas. Apurei quatro e uma caiu logo no início.

O fato das matérias factuais serem sintéticas interfere na escolha das fontes e na construção da matéria?
O jornal tem duas páginas, que é o 24H, com as matérias menores, e o Mais, que são as matérias aprofundadas. O 24H tem o que há de mais factual, mas acho que temos que considerar algumas coisas; muito do factual, o que é mesmo quente, vai estar no jornal do outro dia, já se leu sobre isso na internet, já viu no BATV. Se você pegar um texto gigante sobre um tema que de algum modo já teve repercussão no dia anterior, considerando que o jornal só sai no outro dia, isto faz com que tenha uma série de coisas desnecessárias. Quando você tem um texto menor, óbvio que isso gera uma limitação em escrever, mas de verdade às vezes quando eu faço 24H, em nada interfere a apuração. Fazer um 24H, ou fazer um Mais, às vezes a apuração requer o mesmo tempo e o mesmo esforço. A diferença é só o produto que sai, na forma de hierarquizar. O que é que “sobra” pra se dizer no outro dia sobre determinado assunto? Isso falando de algo que já aconteceu. Você se dá com aquilo dentro de determinadas funções, coisa que não é algo que requer tanta análise, ou tanto especialista, você vai querer tratar do fato especificamente. Às vezes o 24H é o “lidão” do A Tarde. De fato, quem lê a matéria da tarde lê tudo, ou só lê o fato? Se você já soube disso no outro dia? Se você já soube que ontem, à tarde, uma pessoa foi morta na frente da Universidade da Bahia, por exemplo? No outro dia, o que sobra dizer? Sobra dizer que de alguma forma alguém foi preso, ou coisas que de alguma forma antecede algo que você já sabe. Em relação ao Mais, nem sempre ele é tão frio assim. Às vezes tem muito factual no Mais. Só depende, às vezes, de ter uma pauta que valha ter uma repercussão maior. Por exemplo, a greve dos professores está sempre no Mais. Mas porque você tem algo factual com muito valor humano; você tem muitas historias de gente que está sem ter aula, uma série de tendências políticas em relação a isso, então, de fato, existe muito a se explorar. É factual e está no Mais. Às vezes os factuais do 24H nem sempre são tão curtinhos assim. Tem 24H, que são geralmente as aberturas de página, que se a gente for falar de tamanho, às vezes são tão grandes quanto às matérias do Mais, que chamam de “Mais chumbado”. Que você tem uma abertura do Mais que é um texto que não tem nenhuma publicidade, e outros que são textos maiores, geralmente com publicidade embaixo, então não é uma página inteira.

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